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 Estando este espaço urbanizado – a Área Metropolitana do Porto - à latitude de cerca de 40°N, pertence a uma área onde as repercussões do previsível "aquecimento global" serão particularmente graves.

Para além da sua posição em latitude ser susceptível de amplificar os efeitos do "aquecimento global" médio previsível, tem vindo a associar-se um outro efeito, cuja magnitude e intensidade no subsistema climático, não podemos descurar - a urbanização.

Enquanto teremos de aguardar algumas décadas, pelas consequências do primeiro tipo de causas, os efeitos da urbanização são, como veremos, facilmente detectáveis, no comportamento de alguns elementos climáticos, durante os últimos anos.

Os fortes declives de toda a margem S da cidade do Porto, área de grande compacidade, com ruas muito estreitas, edifícios antigos e altos, e, a oposição morfológica evidente entre a metade oriental e ocidental da cidade, ajuda-nos a compreender também, as nuances, em termos de tipologia de ocupação do espaço urbano, a que se tem assistido nos últimos anos.

De uma área total de 3985ha, a cidade do Porto tem cerca de 1/5 (752,7ha) a servir de suporte aos mais de 44 000 edifícios construídos e dispersos pela mancha urbana.

Estes edifícios são, na sua maioria, de construção anterior a 1945, com dois, três e mais pavimentos e alojam para além dos cerca de 300 000 residentes, algum comércio, serviços e mais de 1700 unidades industriais.

Exceptuando Cedofeita, são as freguesias periféricas de Ramalde (NW), Paranhos (N), Bonfim (E) e Campanhã (E), as que concentram o maior número de estabelecimentos industriais potencialmente poluidores.

As ruas, onde circulam, diariamente, mais de 360.000 veículos (Monteiro, A., 1993), são, sobretudo no núcleo mais antigo, normalmente estreitas, o que, associado à exiguidade de espaços verdes públicos, contribui fortemente para a imagem de grande compacidade que a cidade possui (Fig. 93).

Embora, quando observado ao nível do solo, o Porto ofereça, de facto, um aspecto compacto, cinzento, húmido e sombrio, parecendo "...aconchegado no seu grande capote de granito, fumegando independente, no cacimbo dos seus nevoeiros..." (Leitão de Barros, 1896)32, numa perspectiva aérea, mais globalizante, a imagem é consideravelmente distinta (Fig. 93).

ver figura
Fig. 93 – Áreas verdes no concelho do Porto (Monteiro, A., 1993)

Dentro dos quarteirões, muralhados por fachadas graníticas cinzentas e imponentes, sobrevivem ainda muitas manchas verdes (Fig. 93)33.

Para além dos jardins conservados no interior dos quarteirões mantiveram-se, embora sem a funcionalidade34 e o aproveitamento doutros tempos, os jardins da Cordoaria, do Carregal, da Boavista, da Arca d'Água, etc. Incluídas, parcialmente, nas estratégias de manutenção e redinamização dos Espaços Verdes dentro do espaço urbano, estão duas grandes áreas de lazer multifuncionais, o Parque da Cidade, no estremo NW da cidade e o Parque de S. Roque, na área oriental da cidade.


32. Citado por BASTO, A., p.125. [ continuar ]

33. Este levantamento dos espaços verdes na cidade do Porto foi elaborado a partir do Ortofotomapa à escala 1:10000, IGC, 1988. Aproveitamos para agradecer aos Serviços da Carta da Cidade da CMP a amável cedência de cópias deste instrumento de trabalho. [ continuar ]

34. "...Dizia-se que esta era a cidade dos jardins. Das flores e das camélias. Os jardins funcionavam como elementos de convivência cívica e da ocupação dos ócios dos portuenses. Ir ao jardim era hábito, prazer, divertimento. Conveniência de saúde no mundo fechado das ruas estreitas e sobrepovoadas dos limites do burgo.
Mais do que pulmões, os jardins foram, até à época das comunicações e dos transportes de massas, centros culturais e organismos vivos no coração do tripeiro..." (Pacheco, H, Lisboa, 1988, p. 175).
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Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Última alteração em: 30-09-2000
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