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 A noção de "clima" que adoptamos implica que nos preocupemos mais em compreendê-lo, quanto à teia relacional que reflecte, do que em arrumá-lo, em grandes grupos homogeneizados por características muito genéricas.

A operacionalização desta vocação da Climatologia, passa pela adopção de um conceito de clima como um sistema aberto, activo e complexo, cuja vitalidade está na dependência directa da capacidade de trocar energia e matéria com o exterior, retardando o mais possível a entropia total.

Encarado como um sistema aberto, o contexto climatológico de um espaço confinado, de uma região, de uma zona climática ou mesmo do Planeta, é passível de uma multiplicidade de estados de equilíbrio, alguns dos quais, podem colocar em risco, a presença de vida à superfície da terra.

À luz desta perspectiva, a ocorrência quer dos múltiplos acontecimentos extremos (algumas vezes catastróficos), quer de evidências de hipotéticas alterações climáticas, passam a poder explicar-se como "respostas" temporárias ou permanentes do sistema climático a modificações no cortejo de inputs ou outputs de energia e/ou massa.

A instabilidade que tipifica os estados de equilíbrio de qualquer sistema aberto, alerta para a necessidade de compreender a complexidade desta estrutura organizada, que tanto quanto as inúmeras investigações científicas realizadas parecem indicar, é capaz de memorizar acontecimentos e conferir-lhe consequências no tempo.

No caso do sistema climático, existem uma série de regras de funcionamento que ainda desconhecemos e, outras que já se conseguem identificar como por exemplo:

  1. o clima global, por exemplo, reflecte as várias soluções adoptadas pelos níveis estruturais inferiores (subsistemas climáticos regionais e locais) para filtrar, seleccionar e conduzir a energia e a matéria;
  2. as soluções do sistema, plasmadas em qualquer dos níveis estruturais, podem depender só das respostas encontradas pelos níveis inferiores ou pelos níveis superiores ou por ambos;
  3. as "respostas" no sistema climático são impulsivas e ocorrem retardadamente quando a elasticidade é ultrapassada.

Sabendo que o Homem, nomeadamente nos espaços urbanizados, tem contribuído para modificar - travando ou facilitando - alguns dos circuitos de energia e matéria nestes subsistemas, torna-se fundamental avaliar o grau desta sua co-participação, tanto ao nível de resolução geral do sistema climático, como das "respostas" locais e regionais.

Apesar de não duvidarmos que a utilização de combustíveis fósseis, as actuais práticas agrícolas e a crescente exploração dos cursos de água podem gerar impactes significativos no sistema climático, a intensificação dos processos de urbanização é, em nossa opinião, um dos melhores estudos de caso para demonstrar como o modus vivendi das sociedades actuais, pode ser responsabilizado por algumas das manifestações de mudança climática temporárias e/ou permanentes, evidentes a várias escalas espaciais.

 

Dentre os factos considerados provados cientificamente, pelo grupo de investigadores do Intergovernmental Panel of Climatic Changes (IPCC), desde 1990, ressalta o aumento da temperatura média do globo entre 0.3°C e 0.6°C nos últimos 100 anos e, a constatação de que os cinco anos mais quentes do século ocorreram na década de 80.

É também consensual, entre um grande número de investigadores, que a variabilidade climática não aumentou nas últimas décadas, embora o facto da temperatura média global ser mais elevada, tornar mais prováveis a ocorrência de temperaturas mais altas do que mais baixas.

É, nesta época de grandes consensos políticos, económicos e científicos, sobre a importância de um melhor conhecimento dos processos climáticos locais, regionais e globais, que se inclui este contributo para a compreensão do comportamento de algumas variáveis climáticas na região do Porto nos últimos anos.


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Comentários: clias.clc@mail.telepac.pt
Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Última alteração em: 30-09-2000
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