Utopias Portuguesas

O propósito desta secção é identificar e divulgar textos literários utópicos ou de incidência utópica presentes na cultura literária portuguesa. Dada a sua natureza, esta será sempre uma página em permanente construção.

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Letra A

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Letra B

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Letra C

 Obra : Cidade e as Serras(A)  



Data de publicação: 1901 (publicação póstuma)
Autor: Eça de Queiroz (1845-1900)

Sinopse : Jacinto, descendente de uma família nobre portuguesa, vive em França, na cidade de Paris do século XIX. Retrato perfeito do dandy decadente de fin de siècle, Jacinto é moderno, rico, cosmopolita, erudito e sagaz. Na sua opinião o ser humano é tanto mais feliz quanto mais civilizado for, isto é, quanto mais apto estiver para desfrutar das vantagens do progresso e da modernização. Por isso, a sua mansão nos Campos Elísios, no número 202, é o espelho do triunfo da mecanização, recheada de inovações técnicas.

E, no entanto, a vida de Jacinto é monótona e cinzenta, sintoma de um mundo decadente em que a tecnologia não é capaz de satisfazer todas as necessidades humanas. Nesta visão distópica da cidade, a metrópole torna-se um verdadeiro deserto.

Sob o pretexto de restaurar uma igreja onde os seus antepassados haviam sido enterrados, Jacinto e o seu amigo, Zé Fernandes (o narrador), voltam a Portugal, mais precisamente, a Tormes, na região do Douro. Neste regresso utópico às origens, e depois de um cepticismo inicial, Jacinto redescobre-se a si próprio e à felicidade, encontrando nesse locus amoenus a felicidade que o progresso não lhe deu. Jacinto não rejeita totalmente a tecnologia, antes aprende a usá-la selectivamente, aplicando-a harmoniosamente.

Anos depois, Zé Fernandes regressa a Paris e constata que as grandes descobertas tecnológicas de outrora são agora apenas relíquias do passado, ruínas de ferro ultrapassadas que estão já pelo progresso irreversível.

Palavras-chave:

 - cidade vs. campo
 - tecnologia
 - ciência
 - modernização
 - mecanização
 - progresso vs.
locus amoenus

Links :

 - Fundação Eça de Queiróz
 - Eça de Queiróz
 - Projecto Vercial
 - L&PM pocket



 

Letra D

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Letra E

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Letra F

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Letra G

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Letra H

 Obra : História do Futuro 



Data de publicação: 1718 (publicação póstuma)
Autor: Padre António Vieira (1608-1697)

Sinopse : A obra deste pregador Jesuíta seria já bem conhecida em versão manuscrita quando foi publicada postumamente em 1718. A visão profética do futuro que anima o texto é uma marca do autor, que acreditava ser sua missão anunciar o V Império, com base em vaticínios vários. A ideia do V Império, que será retomada por Pessoa, está intrinsecamente ligada à outra grande linha utópica portuguesa, o Sebastianismo, no que seria um reinado universal dirigido por dois representantes de Cristo, o guia espiritual, que seria o Papa de Roma, e o guia temporal, que seria o Rei de Portugal.

A história deste texto começa a ser escrita numa carta enviada pelo então missionário na Amazónia, António Vieira, ao Bispo do Japão, D. André Fernandes, em que lhe descreve o projecto e a forma como este se inspira numa profecia famosa do poeta do séc. XVI, Gonçalo Anes de Trancoso. Tal carta caiu nas mãos do Santo Ofício e valeu ao Jesuíta a acusação de herético. Acusado mais tarde de defender a “Conjura Judia”, António Vieira, utilizará o plano da sua obra História do Futuro como forma de clarificar a sua posição. Eram os primeiros doze capítulos da obra que Vieira previa vir a preencher sete volumes (por isso consideramos hoje o texto inacabado).

História do Futuro alia uma vertente histórica a uma vertente profética. Para Vieira o primeiro historiador da crónica portuguesa poderia ser o profeta Isaías, que, para ele, supostamente sempre se referiria a Portugal e às suas conquistas geográficas nas suas profecias. Também o profeta Daniel teria previsto que o Maranhão se tornaria o centro espiritual do novo império que se avizinhava. O povo Ameríndio seria então o descendente original de Adão, o legítimo representante do genus angelicum, intocado por avidez ou fanatismo político.

Vieira vê a linguagem bíblica como um espelho da realidade apresentada ao Homem para que a enfrente e, portanto, força a sua interpretação dos textos bíblicos para lhes conferir um cariz nacionalista. O seu discurso torna-se então um misto ideológico e literário marcado pela hermenêutica do texto bíblico, fazendo de História do Futuro “um discurso profético de um tempo utópico do qual o autor se torna intérprete.”

Palavras-chave:

 - V Império
 - Sebastianismo
 - Vertente Profética
 - Nacionalismo





Letra I

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Letra J

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Letra K

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Letra L

 Obra : Lusíadas (Os) 



Data de publicação: 1572
Autor: Luiz de Camões (1524/5-1580)

Sinopse : Poema épico publicado pela primeira vez em Lisboa em 1572. Pode ser considerado o bilhete de identidade da nação portuguesa através dos séculos. Toda a obra é construída com base no objectivo de criar um encómio dos feitos heróicos do Império Português no seu apogeu territorial, económico e cultural. Para isso, Camões segue o modelo clássico de Virgílio, igualando (quando não sobrepondo) os feitos lusos aos antigos.

A narração avança com o relato da viagem de Vasco da Gama e a sua chegada à Índia. Ao usar acontecimentos tão recentes, tão presentes na mente do seu público, o autor tem que recorrer a todo o compêndio de recursos épicos no engrandecimento do narrado. Daí o flutuar entre o impessoal do épico e o implicado do documento histórico. A complexidade da obra traduz-se até na ambiguidade quanto ao verdadeiro herói do poema: Vasco da Gama, o herói individual que sintetiza em si as mais excelsas qualidades do seu povo? O povo português como um todo? Ou o próprio autor a braços com a tarefa hercúlea de condensar em versos a grandeza da mais valente das nações?

A grande expressividade do texto é uma consequência dos diferentes níveis de discurso incluídos na narração, com destaque para as constantes intrusões metatextuais, por exemplo, na justificação dada por Tétis ao uso de personagens mitológicas num texto cristão.

É no canto IX, dedicado à Ilha dos Amores, que se gera a controvérsia quanto ao carácter utópico do texto. A ilha surge como um local ideal, porto prazenteiro de marinheiros valentes que neste locus amoenus geram a descendência semi-divina da raça lusa, da qual uma ninfa profetiza os feitos futuros. É ainda do topo de uma montanha desta ilha que Tétis mostra a Gama a Grande Máquina do Mundo, ao estilo de Dante. Não havendo um projecto social, uma organização comunitária na Ilha dos Amores não podemos falar de utopia em sentido estrito, mas o significado simbólico e a complexa divisão de tempo e espaço no que se refere a este episódio são claras marcas utópicas.

Palavras-chave:

 - Império Português
 - Épica
 - Povo Lusitano
 - Locus amoenus

 




 

Letra M

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Letra N

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Letra O

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Letra P

 Obra : Peregrinação 



Data de publicação: 1614 (publicação póstuma)
Autor: Fernão Mendes Pinto (1510?-1583)

Sinopse : Sendo publicada postumamente em 1614, em uma década conheceria já traduções em Castelhano, Francês e Inglês. De facto, o século XVII recolheria seis edições castelhanas, quatro inglesas, quatro holandesas e cinco francesas.

A narrativa, que se pretende autobiográfica, narra as venturas e desventuras de um herói que se multiplica em papéis ao longo do seu percurso (soldado, escravo, pirata, médico, vagabundo, embaixador). Uma das idiossincrasias mais curiosas da obra é que o protagonista nunca é um verdadeiro herói na acepção triunfante e indomável do termo, mas antes um auto-assumido “pobre de mim”, vítima que acaba por satirizar os feitos ideais dos seus contemporâneos. Este personagem acaba por ser mesmo o principal (e, talvez, único) elo de ligação das 44 narrativas incluídas no livro que no dá o primeiro relato novelístico do Extremo Oriente. Mais tarde, quando a geografia proporciona um conhecimento efectivo da zona, torna-se óbvio que muito do veiculado por Mendes Pinto se caracteriza mais por uma visão utópica que real, justificando, para alguns, o jogo coevo do autor “Fernão, mentes? Minto.”. A suposta organização social cristã é um claro exemplo.

Uma marca fascinante desta obra é a sua abertura ao Outro, neste caso o Oriental, reconhecido como diferente mas igualmente humano. Aliás, a comparação do Outro ao Eu Ocidental permite um desfiar de críticas em sátira velada que resultam numa fantástica eficácia.

O momento mais claramente utópico é descrição dos Mares da China, em que o autor chega a aproximar-se de More e Campanella.

Palavras-chave:

 - Extremo Oriente
 - Eu Ocidental / Outro Oriental







Letra Q

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Letra R

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Letra S

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Letra T

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Letra U

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Letra V

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Letra W

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Letra X

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Letra Y

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Letra Z

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