Como foi dito no início, as
saídas de campo serão parte integrante da disciplina. Tratando-se
de uma disciplina de opção em que o número de estudantes
não deverá ser muito elevado, as saídas serão
programadas com alguma flexibilidade, recorrendo a meios de transporte
próprios.
Isso dá-nos a possibilidade de marcar
as saídas com uma pequena antecedência, escolhendo a altura mais
adequada de acordo com:
·
as matérias tratadas nas aulas
teóricas e práticas;
·
as marés;
·
o tipo de tempo previsível.
Como se pretende que haja uma
adaptação o mais estreita possível entre as
reacções e os interesses do alunos e o trabalho de campo é
evidente que aquilo que vai ser dito não passa de um guião muito
elementar, que será desenvolvido de forma diferenciada e tanto quanto
possível adaptada às circunstâncias.
Também estes tópicos resultam do
desenvolvimento das nossas ideias sobre a prática de
leccionação dos Seminários em Geografia Física que
já vem do ano lectivo de 1990-1991.
Esta
saída de campo deverá ser marcada numa manhã de
maré baixa viva.
Percurso:
Porto, Gião, Vila Chã, S. Paio, Labruge, Boa Nova, Foz do Douro, Lavadores.
Objectivos:
·
Trabalho com cartas topográficas e
geológicas;
·
Aprendizagem da orientação
de mapas e identificação da localização no terreno
recorrendo à carta e à bússola;
·
Aprendizagem do trabalho com a
bússola. Identificação de direcção e pendor
de estruturas geológicas (filões, fracturas, falhas);
·
Influência da litologia (granitos
alcalinos e calco-alcalinos, gneisses e migmatitos da praia de Vila
Chã);
·
Reconhecimento de formas litorais
(marmitas, plataformas de erosão marinha, entalhes
basais, arribas);
·
Influência da tectónica (a
falha do Gião, fig. A);
·
Escalonamento de formas e
depósitos litorais. O entalhe basal fóssil do S. Paio e seu
significado (fig. B);
·
Processos actuantes na plataforma de
erosão marinha de Lavadores (fig. C);
·
Recolha de algumas amostras de sedimentos
litorais (areias de praia, de duna, de estuário) para posterior tratamento.
Dado que as praias de Cortegaça e
Maceda se situam a uma distância que ronda os 30kms, justifica-se que
esta saída de campo ocupe um dia inteiro de trabalho. Além disso,
a duração de uma manhã e uma tarde permitirá ver
como se faz a evolução da maré e fazer alguns
cálculos simples sobre a cota atingida pelo mar nos diferentes momentos.
Se possível, também desta vez seria interessante que a visita se
realizasse durante um dia de maré viva.
Objectivos
gerais:
- Identificação das
partes constituintes de um perfil de praia;
- Perfis reflexivos e dissipativos
(fig. G);
- Construção de um perfil
de praia (fig. H);
- Estruturas sedimentares (crescentes de praia, ripples de ondulação e de corrente,
imbricação de calhaus, estratificação
entrecruzada planar);
- Análise macroscópica de
areias de praia e duna ao longo da linha de costa;
- O papel da erosão e o
enriquecimento em minerais pesados (figs 132 e 133).
O percurso
corresponderá ao caminho pelo litoral a Sul de Lavadores até
à Praia de S. Pedro de Maceda. Serão feitas paragens em diversos
locais com os seguintes objectivos específicos:
- Lavadores: o estuário do
Douro. O Cabedelo e as suas variações de forma e
posição (figs. 152 e 153).
- Salgueiros (formas de erosão
no granito de Lavadores, fig. 102);
- Madalena (o exutor submarino e a
perturbação que ele provocou no traçado da linha de
costa, mapa da fig. D);
- Praia Atlântico (a
erosão das areias devida à construção do
exutor submarino faz aparecer depósitos solifluxivos e lagunares
(figura E);
- Praia de Francelos: esta praia foi o
local onde a erosão produzida pela construção do
exutor submarino da Madalena foi mais intensa (fig. F);
- Praia de Miramar: visita ao rochedo
do Sr. da Pedra: o entalhe basal (fig. 101) e as formas do tipo
alvéolo (fig. 113);
- Praia da Aguda: visita ao parque das
Dunas. Morfologia e vegetação das dunas. A importância
da preservação das dunas e da educação
ambiental;
- Praia da Aguda-Granja: a
construção do quebra mar destacado e os fenómenos de
erosão associados (fig. 172);
- Espinho: os esporões e a
alimentação artificial na praia Azul. Histórias de
erosão (fig. I);
- Paramos: Fenómenos de
erosão. Os problemas humanos decorrentes do desaparecimento da
pesca (arte xávega). Entrevista com a população local
sobre o tema. Relação entre os problemas de erosão e
a construção dos esporões de Espinho;
- Lagoa de Esmoriz: mudanças de
traçado, sedimentos lagunares, slikke e schorre. Dunas
embrionárias. O excesso de ocupação do litoral;
- Cortegaça: o enrocamento e o
(quase) desaparecimento da praia. O corte na duna fóssil de Cortegaça
(fig. 141). O significado dos níveis lagunares e do solo
podzólico.
- Percurso Cortegaça-Maceda:
Diferentes sistemas de dunas (fig. 140) orientação e grau de
pedogénese;
- Praia de S. Pedro de Maceda: os
níveis lagunares: comparação com a sua
situação em Cortegaça;
Percurso: Carregal-Arrábida
Shopping-Picão-Lavadores.
Trata-se de um percurso destinado a mostrar os
depósitos de fácies fluvial e marinho existentes na plataforma
litoral na área a sul do Douro (mapa da fig. J):
- Depósitos de carácter
fluvial que se situam sempre acima dos 50m.
- Estes depósitos podem ainda
ser subdivididos em 2 conjuntos: Um conjunto mais antigo de
depósitos fluviais relativamente bem calibrados, formados num
ambiente de planície aluvial (fase I, corte do Carregal, fig. K).
- Um outro conjunto, mais recente,
englobando blocos de sedimentos do tipo anterior e com um carácter
nitidamente torrencial (fase II, corte do Arrábida Shopping-fig.L,
corte do Picão).
- Depósitos marinhos (que
poderiam também designar-se como terraços marinhos ou praias
levantadas, de acordo com a designação clássica que
lhes foi, muitas vezes, atribuída) que se encontram a cotas que
nunca ultrapassam os 40m.
A
separação existente entre os depósitos de fácies
marinho e fluvial é acentuada pela existência de um degrau
topográfico geralmente bem sensível (por exemplo à
latitude da Madalena, ver fig. D).
Quanto aos
depósitos marinhos, as suas características sedimentares e
situação topográfica permitiram definir um escalonamento
de 3 níveis.
- Os depósitos
que se apresentam em manchas mais extensas são, normalmente,
aqueles que se situam na proximidade dos depósitos fluviais, a
altitudes compreendidas entre 30 e 37m. Trata-se de depósitos
geralmente espessos, que assentam sobre um substrato rubefacto, bastante
alterado, e que designaremos como “nível 1” (Lavadores,
fig. M).
- Os depósitos do
“nível 2” apresentam uma certa
ferruginização (cor acastanhada), assentam sobre um
substrato cuja alteração, menos intensa que a do
nível precedente, lhe confere uma cor esbranquiçada, e
situam-se a altitudes de 18-15m (Lavadores, fig. N).
- Os depósitos do
“nível 3” aparecem a cotas geralmente inferiores a 10m,
e em certos locais chegam a atingir o nível actual das
marés baixas (praias de Francelos, da Aguda e da Granja).
Apresentam uma cor castanha, que corresponde a uma ferruginização
bastante intensa, que os transforma, por vezes, em verdadeiros
conglomerados. O seu bed-rock apresenta apenas
uma alteração incipiente e uma pâtine castanha ou alaranjada, obviamente relacionada com a
migração de ferro que condicionou a cimentação
do depósito suprajacente (fig. P).
Ainda junto à
praia de Lavadores encontramos deformações de origem
aparentemente tectónica em depósitos dos níveis II e III
(fig. O).
Figura A: A falha do
Gião afecta um depósito presumivelmente
fini-terciário/quaternário. É um exemplo pedagógico
para comprovar a actividade tectónica recente
Figura B: Entalhe
basal fóssil a uma cota de 9m acima do nível médio
daságuas do mar (S. Paio, Labruge, Vila do Conde)
Figura C: Plataforma
de erosão marinha de Lavadores. A maré deveria estar praticamente
no seu ponto médio, o que significa que o mar estava à cota 0.
Figura D:
Reprodução parcial do mapa 1:25.000, folha 122 (Porto).
Edição de 1999
Figura E: Afloramento
de depósitos de tipo lagunar na praia Atlântico (entre Valadares e
Francelos). Aspecto de pormenor das fendas de retracção
encontradas nesse depósito
Figura F:
Erosão da praia de Francelos e destruição de parte do bar
“Titanic”. 31 de Dezembro
1999.
Figura G: Praias
dissipativas, intermédias e reflexivas.
Figura H: Processo de
elaboração de perfis de praia.
Figura I: O recuo da
linha de costa em Espinho. Figura extraída do Guia de Portugal (Entre
Douro e Minho) da Fundação Calouste Gulbenkian.
Figura J:
Esboço geomorfológico de um sector da plataforma litoral
compreendido entre a Foz do Douro e a Praia da Madalena. Com base na carta
topográfica 1/25.000.
Figura K: O
depósito da fase I do Carregal (128m)
Figura L: O depósito
do Carrefour (hoje inexistente; muito semelhante ao do Arrábida
Shopping). Na foto de baixo, pormenor do corte anterior.
Figura M: O
depósito do nível marinho I de Lavadores (35m)
Figura N: O
depósito do nível II de Lavadores (18m)
Figura O: O depósito
marinho do nível II
de Lavadores e a sua afectação provável por uma falha
inversa
Figura P: Entalhe
basal nos granitos de Lavadores, fossilizado por um depósito
(Eemiense?). Praia de Lavadores, cerca de 5-6m.