Ao contrário da vasta bibliografia
existente para os litorais arenosos, a bibliografia para os litorais rochosos
é relativamente escassa e baseia-se muito nos textos de Sunamura e
também nos de Trenhaile. Isto acontece, a nosso ver, porque, num meio
tão dinâmico como é a interface entre o mar e o continente,
uma evolução rápida e espectacular parece ser mais
atractiva do que uma evolução relativamente lenta, e onde os
métodos de investigação têm que ser obrigatoriamente
adequados a essa relativa lentidão de processos.
Antes do mais é importante definir o
que se entende por costa rochosa e apresentar alguns dos respectivos elementos
morfológicos (fig. 84). Segundo Sunamura (1992), costa rochosa é
uma costa em arriba, composta por material consolidado, independentemente da
sua resistência. No mesmo texto, Sunamura propõe-se estudar costas
compostas por materiais que vão desde o granito ou basalto até
materiais pouco coerentes como os depósitos glaciares.
Os factores a considerar na
evolução das costas rochosas são, basicamente, a energia
das ondas e o tipo de rocha. Porém, a energia da ondulação
depende da quantidade de sedimentos que se sobrepõem ao substrato
rochoso. Essa quantidade depende do balanço sedimentar de cada
troço costeiro que depende, por sua vez (fig. 85):
·
do fornecimento de sedimentos de e para a
plataforma continental;
·
da deriva litoral;
·
dos sedimentos trazidos pelos rios;
·
dos materiais resultantes da
erosão das arribas.
Os sedimentos existentes sobre o substrato
rochoso, por um lado contribuem para o seu desgaste, funcionando como
abrasivos, mas, por outro, podem protegê-lo da acção das
ondas. Porém quando a cobertura sedimentar é suficientemente
espessa para impedir que a acção das ondas actue sobre o bedrock, estamos já na presença de uma praia.
Há 3 tipos de ondas que podem ocorrer
na base de uma arriba quando a onda incide paralelamente à linha de
costa (fig. 86): ondas estacionárias, ondas a quebrar e ondas já
quebradas.
A respectiva
ocorrência depende da relação entre a profundidade na base
da arriba e a profundidade a que as ondas quebram. Se a profundidade na base da
arriba for superior à profundidade a que um tipo específico de
onda pode quebrar[1], formam-se ondas
estacionárias.
Se a profundidade for idêntica a esse
valor, a onda rebenta sobre a arriba. Se a profundidade for inferior, a onda
rebenta mais para o largo e já chega rebentada à base da arriba
(fig. 86).
Uma vez que o declive da onda é muito
condicionado pelo atrito com o fundo, a ocorrência de cada uma destas
hipóteses depende basicamente do declive deste e das
características da ondulação. Isto significa que, num
sector costeiro determinado, quando as ondas são de pequena altura podem
originar ondas estacionárias. A variação da pressão
que estas exercem com o tempo é relativamente pequena (fig. 87, a), mas
pode ir-se acentuando à medida que a onda se torna mais alta,
tornando-se cada vez mais dissimétrica até que o rebentar da onda
origina um grande pico de pressão, praticamente instantâneo (fig.
87, b). Se tiverem mais do que essa altura crítica, as ondas chegam
à base da arriba já quebradas e, embora a sua passagem
corresponda a um aumento grande de pressão estamos muito longe do pico
que acontece no caso anterior (fig. 87, c).
O problema da pressão dinâmica
sobre as arribas produzida pelo quebrar das ondas é analisado na figura
88: verifica-se que não há acordo entre os diferentes
investigadores e que, provavelmente, o máximo de pressão
deverá situar-se ao nível da água parada (still water
level, swl), ou um pouco acima desse nível.
Para além da resistência
mecânica dos minerais componentes e da susceptibilidade à
alteração química (dependentes, essencialmente da
composição das rochas), a existência de fracturas e descontinuidades
de diversos tipos tem um papel primordial na definição da
capacidade que uma determinada rocha tem de resistir às pressões
mecânicas do tipo daquelas a que estão sujeitas as rochas batidas
pelas ondas.
Um outro factor é a
“fadiga” que as rochas adquirem justamente devido a
compressões cíclicas do tipo das que ocorrem com o quebrar das
ondas. Essa fadiga induz uma microfracturação que diminui a
resistência da rocha, cujas depressões e reentrâncias
poderão vir a ser alargadas e depois exploradas por acção
das ondas, de molde a facultar o arranque de pedaços de rocha.
Como pode ver-se na figura 89, o aumento do
número de ciclos de pressão diminui a resistência à
fadiga das rochas. O mesmo acontece com a saturação da rocha: a
existência de água diminui fortemente o limite de fadiga das
rochas.
Na figura 90 pode ver-se que o aumento de
profundidade produz uma significativa diminuição da porosidade
numa rocha granítica e um correlativo aumento da resistência. A
porosidade da rocha próximo da superfície deve-se, essencialmente,
à meteorização química a que as rochas ricas em
feldspato estão especialmente sujeitas.
A água do mar próxima da
superfície está geralmente saturada de carbonatos. Porém,
durante a noite, alguns organismos produzem CO2 e, por isso, a água
torna-se, de novo, capaz de dissolver o carbonato de cálcio.
A crioclastia, a haloclastia e a hidroclastia
podem ser particularmente activas em meio litoral. Por outro lado, os
fenómenos de descompressão são responsáveis pela
abertura de fracturas paralelas à superfície topográfica,
que são muito importantes em rochas graníticas.
Também os seres vivos são
responsáveis por fenómenos de bio-corrosão e têm um
papel muito activo no alargamento das fracturas nas faixas litorais.
Quando as ondas escavam a base da arriba esta
torna-se instável devido ao aumento de declive e à instabilidade
provocada pelo sub-escavamento (fig. 91). Essa instabilidade induz movimentos
de massa de diversos tipos (queda de blocos, deslizamentos e fluxos de
detritos). A forma e a intensidade desses movimentos depende muito do tipo de
rocha e da respectiva estrutura, bem como do clima que pode facilitar ou
não certos tipos de meteorização (química nos
climas tropicais, mecânica nos climas frios e áridos).
Os movimentos de massa espalham detritos na
base da arriba, o que significa que a erosão não pode continuar
enquanto eles não tiverem sido transformados em materiais
transportáveis pelas ondas e correntes litorais.
Quando as ondas batem na face da arriba,
há uma força compressiva que actua perpendicularmente à
arriba. Se a arriba tem fracturas, o ar situado nos interstícios
é violentamente comprimido. Quando a onda recua, dá-se um
processo de descompressão. Desta forma os interstícios da rocha
são alargados e a rocha vai-se fragmentando por um processo de arranque
(“quarrying”, Sunamura, 1992). A
descompressão que ocorre no refluxo da onda ajuda ainda a transportar os
materiais desagregados.
As ondas, armadas com os detritos arrancados
à arriba vêem a sua força aumentada. Deste modo, os choques
destes materiais com as rochas vão contribuir para o arranque de
partículas de diversos tamanhos. Este processo acaba por produzir um
polimento característico na superfície das rochas.
A força de ataque da onda ocorre quase
instantaneamente , mas, ao contrário de forças actuantes noutros
ambientes, sofre mudanças cíclicas de acordo com a amplitude das
marés.
É difícil quantificar os
resultados da acção das ondas sobre rochas com descontinuidades
(devidas à estratificação, xistosidade ou
tectónica) e ainda menos determinar de forma quantitativa a
importância do tipo e grau de meteorização das rochas na
definição da velocidade de recuo das arribas. É de
esperar, todavia, que um ataque cíclico, como aquele a que são
submetidas as rochas no ambiente costeiro, intensifique a fadiga das rochas e
diminua a sua resistência.
O uso de modelos de laboratório esbarra
com algumas dificuldades. Não é fácil criar um produto
que, em ambiente de laboratório, tenha um comportamento semelhante ao
das rochas num ambiente natural. Todavia, o uso de areia cimentada tem dado
bons resultados. Mais difícil ainda é modelizar as
descontinuidades existentes nas rochas.
Na figura 92 é possível ver o
resultado duma modelização feita com ondas já quebradas:
quando se atinge um certo limiar (20 horas de experiência), as areias
resultantes da desagregação do cimento na área do entalhe
produzido pelas ondas (no nível da água parada: still water
level) aumentam a velocidade de escavamento.
Porém, a partir das 30 horas essa velocidade estabiliza-se porque a
referida acumulação de areias dissipa a energia das ondas (fig.
93). Com efeito, em arribas compostas por sedimentos terciários na
Califórnia verificou-se que o recuo das arribas se tornou mais lento
à medida que a praia se ia alargando. Com 20m de largura de praia, o
recuo das arribas era já muito lento e cessava completamente quando a
praia atingia 60 m de largura (Sunamura, 1992).
Mesmo em plataformas de erosão marinha
cobertas normalmente por praias, se uma tempestade arrastar as areias, as ondas
podem atingir a arriba que se torna temporariamente activa e pode sofrer um
recuo apreciável, desde que seja constituída por rocha pouco
resistente.
De um modo geral, é nas grandes
tempestades, quando as ondas têm uma maior energia e o nível do
mar está sobrelevado devido a storm surges,
que se verificam maiores recuos das arribas. Ora, justamente nessa altura,
é difícil fazer observações directas. Por isso,
muitas vezes, a velocidade de recuo das arribas estuda-se através de
fotografias aéreas ou até, com base em grafitti datados.
Os movimentos de nas arribas podem ser de
diversos tipos, como pode ver-se na figura 94. Podem ir desde a simples queda
de blocos (94-a), ao seu basculamento com queda posterior (94-b). Os
deslizamentos (94-c) podem ser de tipo planar ou rotacional. Em rochas
apropriadas podemos encontrar fluxos de detritos (94-d).
A erosão nas costas rochosas não
se processa só na base das arribas, mas também ao longo do fundo
marinho que se desenvolve a partir da base da arriba. Neste domínio a
informação existente é muito menos abundante do que a que
respeita à erosão na base das arribas. Esse facto fica a dever-se
à dificuldade de avaliação devida à lentidão
do processo e ao facto destas plataformas estarem total ou parcialmente
submersas.
A força de ataque das ondas aumenta
quando existem sedimentos mobilizáveis em contacto com a plataforma.
Quando a cobertura se torna demasiado espessa essa força deixa, como
é óbvio, de exercer-se. A resistência da rocha é um
factor da maior importância, que depende tanto da respectiva
composição como das descontinuidades que a afectam.
A erosão vertical das plataformas
é muito mais lenta que o processo de escavamento dos entalhes[2]
da base das arribas. A respectiva relação varia entre 2-5%
(Sunamura, 1992).
Além disso, o escavamento das
plataformas, fazendo aumentar a sua profundidade acaba por reduzir a
intensidade das forças que actuam sobre os fundos. Trata-se, por isso,
de um processo que se auto-limita e que se torna mais lento com o tempo, desde
que o nível do mar não sofra oscilações.
É pertinente, por isso, definir qual o
nível de base da rebentação (=surf base, Sunamura 1992) que corresponde à profundidade a que as ondas
quebram em situação de tempestade. Essa profundidade anda
à volta de 10m em costas abertas.
Os nomes atribuídos a estas plataformas
são muito variados, sobretudo em língua inglesa (Sunamura, 1992,
p. 139). Todavia, uma das designações que é mais utilizada
é a de plataforma de abrasão marinha que dá conta de um
dos processos actuantes na sua elaboração. Porém, dado que
o afeiçoamento destas plataformas não se deve só a este
processo, parece-nos melhor a designação de “plataforma de
erosão marinha” (Tricart, 1977).
A cota destas plataformas pode ser muito
interessante para a identificação de movimentos
tectónicos… mas antes de nos lançarmos nessa via é
necessário compreender o mecanismos da sua formação.
Na figura 95 podemos ver os resultados de
experiências com modelos reduzidos levadas a cabo por Sunamura, das quais
se podem extrair algumas conclusões:
·
A cota das plataformas talhadas em rochas
resistentes é superior à das plataformas talhadas em rocha
branda.
·
As plataformas criadas por ondas
quebradas evoluem mais lentamente do que as criadas por ondas a quebrar. As
ondas a quebrar são capazes de rebaixar mais facilmente a
superfície em que actuam e produzem, por isso, plataformas mais baixas.
Como é evidente, se a profundidade existente for inferior à profundidade
a que as ondas de tempestade quebram, dentro das referidas ondas, só as
já quebradas poderão embater na arriba.
·
Dado o ponto anterior, torna-se evidente
que a amplitude das marés vai, também, interferir no resultado
final.
Na figura 96 é possível observar
os três tipos fundamentais de morfologia nas costas rochosas: plataforma
descendo para o mar, plataforma horizontal e arriba mergulhante.
Dado que é usada correntemente,
utilizaremos também a designação de plataformas do tipo A
para as plataformas com declive em direcção ao mar e do tipo B
para aquelas que são aproximadamente horizontais (Sunamura, 1992).
Dentro de cada um destes grandes tipos pode haver muitas variedades (Sunamura,
1992) dependentes de:
·
tipo de rocha e respectiva estrutura,
·
condições de
meteorização o e clima,
·
marés,
·
exposição à
ondulação,
·
herança de pequenas
variações do nível do mar.
As arribas mergulhantes podem
corresponder a antigas arribas submersas por movimentos tectónicos ou
por subida do nível do mar. Também pode tratar-se de escarpas de
falha ou corresponderem a uma actividade vulcânica recente. As margens
dos fiordes também funcionam como arribas mergulhantes. De um modo geral
estas arribas mergulhantes recuam muito pouco, porque os fundos marinhos, nas
suas proximidades, se situam abaixo do nível de base da
rebentação (fig. 99). Com efeito, as ondas só afectam o
fundo se este estiver acima deste nível e se puderem arrancar alguns
sedimentos do mesmo fundo.
Doutra forma, a reflexão das ondas
provocada pelas arribas mergulhantes pode produzir ondas estacionárias
com pouco efeito erosivo (fig. 86).
Parece haver também a tendência
para estas arribas mergulhantes ocorrerem em rochas bastante resistentes.
A principal diferença entre as
plataformas de tipo A e B é a existência de um degrau abrupto
separando a área aplanada das zonas mais profundas (fig. 96).
Quanto à cota de início das plataformas
de tipo A, Sunamura parece inclinar-se para a ocorrência a uma cota
próxima do nível médio das marés altas, mas insiste
na existência uma certa variabilidade espacial.
C. Andrade (2002), num estudo sobre as
plataformas de erosão marinha na costa portuguesa apresenta perfis (fig.
97) com 2 sectores: um sector de declive mais baixo situado abaixo do
nível médio do mar (1). Acima do nível médio
desenvolve-se uma rampa (2), com um declive mais elevado que termina no
nível das marés mais altas.
Este modelo parece-nos adequado ao que temos
observado na linha de costa entre Vila do Conde e Espinho (fig. 98), onde as
plataformas encontradas parecem corresponder ao tipo A.
Segundo Sunamura (1992) a existência de
um degrau nas plataformas de tipo B significa, basicamente, que a
força das ondas não é suficiente para vencer a
resistência da rocha, embora se deva dizer que as opiniões dos
investigadores variam bastante quanto às causas de ocorrência de
um ou outro tipo de plataformas e que as plataformas do tipo B parecem ser
particularmente enigmáticas. Segundo Sunamura, estas plataformas
acontecem porque, durante a transgressão flandriana, o degrau que limita
as plataformas sofreu uma submersão rápida que o transformou numa
arriba mergulhante. Porém, a complexidade da evolução do
nível do mar durante o Holocénico e a possível
interferência com movimentos tectónicos e com ajustamentos
isostáticos introduz muitas incertezas nesta explicação.
Nas áreas relativamente
estáveis, as plataformas formadas pelo estacionamento do mar no
máximo holocénico foram sofrendo algumas
modificações devido às acções posteriores
que sofreram. As medidas por MEM (micro elevation meter, fig. 100) dão
valores aparentemente baixos, mas ainda assim, significativos (0,2-0,7mm/ano em
grauvaques, na costa SE da Austrália).
Dado que estes processos podem ter funcionado
durante cerca de 6000 anos, podemos ter como valor mínimo 1,2 metros e
como máximo 4,2, o que está longe de ser negligenciável!
Embora sejam formas muito interessantes e
às vezes espectaculares, os entalhes basais
em rocha não calcária têm sido pouco estudados. A figura 95
representa entalhes associados a plataformas do tipo A [a), b), c) e a arribas
mergulhantes, d)]. O papel da abrasão é óbvio até
pelo facto de as rochas aparecerem polidas (fig. 101). A figura 99 mostra
claramente que a cota a que eles são mais profundos varia mesmo em
condições experimentais, aparecendo quer ligeiramente acima do
nível da água parada, quer ligeiramente abaixo. A
existência de marés introduz novas complicações na
definição da altura a que os entalhes se desenvolvem.
Há um certo predomínio de
entalhes ao nível médio, mas podem aparecer até cerca de
1m acima e até, nas áreas abrigadas, o máximo escavamento
acontece perto do nível das marés baixas.
Na área que estudámos, os
entalhes aparecem frequentemente ligados à existência de fracturas
que são aproveitadas pela erosão marinha. Muitas vezes essas
fracturas são oblíquas em relação à linha de
costa e forma-se uma espécie de corredor de erosão, ao longo do
qual se desenvolve um entalhe contínuo cuja cota vai subindo desde o
limite exterior, do lado do mar, até ao limite interior, acompanhando a
cota da plataforma de erosão marinha que se desenvolve na sua base
(figs. 103 e 104)
Sempre que a rocha é passível de
dissolução, o desenvolvimento dos entalhes torna-se mais evidente
e encontram-se, em ambientes tropicais, formas espectaculares (fig. 105).
Nessas condições também se podem encontrar interessantes
formas de pormenor (vasques, tafoni), diversificadas consoante o tipo de rocha
em presença.
As grutas
correspondem a aberturas nas arribas em que em que a profundidade é
maior que a abertura. Aparecem em rochas relativamente resistentes explorando
as descontinuidades nelas existentes (fig. 106). Devido à
existência da própria cavidade, os fenómenos de
compressão e descompressão actuam nas grutas de forma
particularmente forte, o que contribui para a sua evolução e
manutenção.
Quando as ondas, atacando ambos os lados de um
promontório, conseguem perfurá-lo, pode formar-se um arco (fig. 107). Os arcos são formas relativamente efémeras.
Quando a parte superior colapsa o arco desaparece e passamos a ter um”sea stack” (pináculo, penhasco).
Porém, nem todos os pináculos resultam da
destruição de arcos: diques de rochas resistentes
intruídos em materiais mais brandos podem resultar em formas deste tipo
(fig. 110).
A submersão de áreas previamente
carsificadas pode originar formas como os arcos da Ponta da Piedade (Lagos,
fig. 109).
As marmitas
têm uma forma cilíndrica e são escavadas por
acção de materiais abrasivos de diversos tamanhos. Têm uma
secção predominantemente circular . Geralmente são mais
largas do que fundas. A existência de depressões prévias,
por vezes ligadas à passagem ou cruzamento de diaclases (fig. 111)
poderá permitir uma acumulação de materiais e o seu turbilhonar
desenvolverá o efeito abrasivo típico das marmitas.
As bacias de
dissolução
aparecem em rochas calcárias. Apresentam um fundo plano e desenvolvem-se
a partir de pequenas depressões, por dissolução de calcite
durante a noite, quando se dá uma diminuição do PH devida
à respiração dos seres vivos que vivem nessas
depressões. Depois há uma remoção dos produtos
residuais por acção das águas do mar. Estas
depressões estendem-se lateralmente, conservando paredes verticais e
podendo originar depressões mais amplas e com um contorno irregular por
coalescência de várias bacias pequenas (fig. 112). Estas bacias
designam-se, por vezes, pelo termo francês (vasques).
Tafoni e alveólos: caracterizam-se pela existência de depressões na
superfície das rochas. Aparecem em rochas ígneas (granitos,
basaltos) mas também em diversos tipos de grés. As suas
dimensões podem ir de alguns cms a vários metros. Encontram-se em
vários ambientes e não só no meio litoral, mas
também em áreas com uma certa secura. São devidos,
essencialmente, a fenómenos de desagregação mecânica
(halo e hidroclastia). No caso de ocorrerem na zona costeira aparecem na zona
da salsugem, acima do nível das marés mais altas (fig. 113).
ANDRADE, C. ET AL., (2002) – Shore platform downwearing and cliff
retreat in portuguese West coast, Littoral 2002 Proceedings, Vol. 2, Porto,
Eurocoast-Portugal, FEUP, p. 423-432.
MOREIRA, M. E. S. A., (1984) - Glossário
de termos usados em Geomorfologia litoral, Centro de
Estudos Geográficos, Linha de acção de
Geografia das Regiões Tropicais, relat. nº
15, Lisboa, 167 p.,
MOREIRA, M. E. S. A, (2001) - Síntese da
Evolução Geomorfológica da Ilha da Inhaca
(Moçambique), Livro de Homenagem ao Professor Doutor Gaspar Soares de
Carvalho, Ed. M. E.
Albergaria Moreira, A. Casal Moura, H. M. Granja, F. Noronha, Braga, p.
137-158
SUNAMURA T.,
(1992) - Geomorphology
of Rocky Coasts, John
Wiley & Sons, Chichester,
302 p.
TRENHAILE, A. - (1997) - Coastal
Dynamics and Landforms, Clarendon Press, Oxford, 366 P.
TRICART, J., (
1977) - Géomorphologie dynamique générale, Précis de Géomorphologie, T.
II, Paris, SEDES, 345 p.,
http://www.trekdiary.com/99mad5.html
Depois de enunciados os principais processos
geomorfológicos que actuam nas costas rochosos, a aula prática
será construída a partir da identificação dos
referidos processos em actuação em diversas
situações quanto à litologia e ao clima. Esse trabalho
será feito a partir de fotografias selecionadas, algumas das quais
estão incluídas neste texto.
Figura 84: Paisagens e
terminologia nos litorais rochosos
Figura
85: O balanço sedimentar num determinado sector costeiro
Figura
86: Tipos de rebentação na base das arribas
Figura
87: Distribuição das pressões actuando na base das arribas
com ondas estacionárias, a quebrar ou já quebradas
Figura
88: Distribuição vertical da energia produzida pelo quebrar das
ondas
Figura
89: Relação entre a fadiga dos materiais, o número de
ciclos de pressão e a existência ou não de água
Figura
90: O papel da profundidade e da decorrente diminuição da
porosidade na resistência
de uma rocha granítica
Figura
91: o sistema de recuo das arribas: a erosão basal é essencial
para um recuo contínuo da arriba.
Figura
92: Velocidade de recuo de uma arriba artificial e formação de
uma praia na sua frente. O entalhe desenvolve-se obliquamente, originando uma
rampa.
Figura
93: Velocidade de escavamento de uma arriba composta de areia aglutinada por um
cimento.
Figura
94: Movimentos de massa nas arribas
Figura 95: Formas de entalhes
basais em rocha não calcária
Figura 96: Os três tipos
fundamentais de morfologia nas costas rochosas: plataforma descendo para o mar,
plataforma horizontal e arriba mergulhante
Figura 97: Perfis de algumas
plataformas de erosão marinha situadas na costa portuguesa
Figura 98: Antiga plataforma
de erosão marinha; é de notar a existência de um sector
inferior, com baixo declive (1) e uma rampa (2) que, neste caso tem um declive
de cerca de 13° (Praia de Vila Chã, Vila do Conde). Nesse momento o
nível do mar estava praticamente no nível médio. A seta
corresponderia ao nível médio do mar contemporâneo da
plataforma. Este situar-se-ia claramente acima do nível actual
Figura 99: Tipos e
desenvolvimento de entalhes basais em ambiente de laboratório
Figura 100: Costa da Galiza:
colocação de instrumentos de medida da degradação
da superfície em plataformas de erosão marinha (Micro Elevation
Meter, MEM), feita sob a supervisão de A. Trenhaile.
Figura 101: Entalhe basal em
gneisses muito resistentes. Rochedo do Srª da Pedra, Miramar, V. Nova de
Gaia
Figura 102: Entalhe basal e
rochas pedunculadas na praia de Salgueiros, V. Nova de Gaia
Figura 103: Entalhe basal
desenvolvendo-se em rampa a partir do nível da maré baixa. Praia de
Vila Chã, Vila do Conde
Figura 104: Entalhe basal
desenvolvendo-se em rampa e plataforma de erosão marinha adjacente
(parcialmente coberta de areias). A sul da Praia de S. Paio, Labruge, Vila do
Conde
Figura 105: Formas litorais
(plataformas do tipo B) em diversos tipo de rocha, nas regiões tropicais
Figura 106: O aproveitamento
das superfícies de descontinuidade no desenvolvimento de uma pequena
gruta no granito calco-alcalino de Lavadores. Esta reentrância
desenvolve-se acima do nível das marés mais altas, numa
área muito exposta e deverá corresponder a uma herança de
um nível relativo do mar ligeiramente mais alto
Figura 107: Arcos de
erosão: Praia de As Catedrais, Litoral Norte da Galiza, entre Foz e
Ribadeo (Concelho de Barreiros, Província de Lugo).
Figura 108: Fotografia
aérea da praia das Catedrais, com indicação de algumas das
direcções estruturais mais relevantes
Figura 109: Aspecto do carso
exumado da Ponta da Piedade (Lagos, Algarve). Frente ao arco podem ver-se 2
pináculos (sea stacks)
Figura 110: Pináculo
resultante de um dique intruído nas rochas basálticas (Madeira.
Extraído do site http://www.trekdiary.com/99mad5.html
Figura 111: Conjunto de
marmitas orientadas pela acção de fracturas: Praia de Lavadores
(V. Nova de Gaia)
Figura 112: Bacia de
dissolução no beach rock da Praia do Xai-Xai (Moçambique)
Figura 113: Alvéolos
nos gneisses biotíticos muito resistentes do rochedo do Sr. da Pedra
(Praia de Miramar, V. Nova de Gaia). Altitude: cerca de 9m acima do
nível médio das águas do mar.