A ÁREA DO SÃO PAIO (LABRUGE, VILA DO CONDE) E A SALVAGUARDA DO PATRIMÓNIO NATURAL E CULTURAL
Maria da Assunção Araújo
Dep. Geografia da Fac. Letras da UP; e-mail m.a.araujo@netcabo.pt
Paulo Costa Pinto
Gabinete de Arqueologia da Câmara Municipal de Vila do Conde; e-mail: mop62693@mail.telepac.pt
A área do São Paio corresponde a um afloramento rochoso essencialmente granítico integrado no litoral Norte de Portugal, situada 15km a Norte do da foz do rio Douro e 7km a sul da foz do Rio Ave.
Trata-se de um local "mágico", que além de uma grande beleza cénica e de condições naturais razoavelmente preservadas apresenta um notável interesse científico.
Podemos apontar 3 grandes domínios:
Geomorfologia
É possível encontrar, na área do São Paio diversos afloramentos de depósitos marinhos. Estes depósitos situam-se a altitudes variadas, o que sugere, a priori, idades diferentes. Porém, o traçado da linha de costa e a evidente influência dos factores estruturais na sua configuração sugerem uma eventual incidência de uma tectónica bastante recente, deslocando depósitos que possivelmente correspondem ao último período interglaciar.
Por outro lado, é possível encontrar uma sequência de depósitos englobando de baixo para cima:
1 - formação marinha,
2 - formação solifluxiva,
3 — formação eólica,
4 — formação solifluxiva.
A formação solifluxiva mais antiga (2) contém restos de carvão que poderão ajudar a estabelecer a idade dos depósitos que com ela se relacionam mais directamente.
Associado a um pequeno afloramento de um depósito marinho, situado a 9m de altitude, encontra-se uma "sapa" ou entalhe basal fóssil, claramente soerguido acima do nível actual do mar. A existência simultânea desta bonita forma talhada no granito e de depósitos contemporâneos da sua elaboração terá o maior interesse pedagógico, para o despertar do interesse dos jovens sobre as variações climáticas e eustáticas durante o Quaternário.
A Área arqueológica do Castro de S.Paio
O Castro de São Paio é um pequeno povoado da Idade do Ferro existente no lugar da Mota, junto à praia dos Castros, na linha de costa do pequeno aglomerado de Moreiró, freguesia de Labruge, Vila do Conde.
Foi encontrado para a comunidade científica pelo Arquitecto Fernando Lanhas, nas suas curiosas deambulações pela costa nos anos de 1959 tendo sido publicado na década seguinte pelo achador, em conjunto com o Bispo Arqueólogo D.Domingos de Pinho Brandão.
O Castro foi desde então objecto de inúmeras acções de caça ao tesouro, tendo em 1991 sido finalmente protegido pela sua classificação no Plano Director Municipal como local de interesse arqueológico do tipo - A — classificação que corresponde a uma reserva científica absoluta. Aí decorreram de 1993 a 1996 três campanhas de escavação que permitiram perceber um povoado naturalmente piscatório com casas-pátio, estendendo-se de um extremo ao outro do alto de São Paio, com uma crono-estratigrafia que aponta para dois períodos de ocupação, sendo o mais recente atribuível ao final do século I a.C.
A área envolvente ao Castro apresenta vestígios atribuíveis ao paleolítico e um conjunto de gravuras com um interesse notável, embora de cronologia desconhecida, onde incluímos um conjunto de penedos, ditos amoladoiros, por se acreditar que as marcas aí existentes correspondiam à abrasão resultante do afiar de machados de pedra polida.
Para o local está prevista a criação de um Centro Interpretativo e Museológico que explique e ajude a preservar a paisagem, a herança arqueológica, os dados geológicos — um Centro para um património integral.
Interesse turístico-paisagístico versus degradação ambiental
Na área do São Paio associam-se elementos de interesse geomorfológico e arqueológico, com uma grande beleza cénica e um certo carácter selvagem, fruto de uma sábia utilização ao longo dos séculos por actividades agrícolas tradicionais. Ora, a conjugação de todas essas qualidades com a melhoria das acessibilidades que se tem verificado nesta área, cria um risco evidente de sobreocupação e de destruição de um património eminentemente frágil.
Daí que nos pareça fundamental explicar às pessoas da terra as riquezas que ela encerra.
Se conseguirmos fazer passar esta mensagem serão essas mesmas pessoas a velar para que não se verifiquem actos de vandalismo.
Por outro lado, as autoridades devem "dar o exemplo", mantendo os locais limpos e organizados dentro das suas competências e atribuições. Só assim a população se sentirá incentivada a agir do mesmo modo — isto é respeitando o local e contribuindo para a sua conservação.