Gonçalo Teles Vieira*, Miguel Ramos** & Jorge Gárate***
* Centro de Estudos Geográficos, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Alameda da Universidade, 1600-214 Lisboa, Portugal; E-mail: gtvieira@ceg.ul.pt
** Departamento de Física, Universidade de Alcalá de Henares, Facultad de Ciencias, Ctra Madrid-Barcelona, km 33,600, 28871 Alcalá de Henares (Madrid), Espanha; E-mail: miguel.ramos@uah.es
*** Real Instituto y Observatorio de la Armada, 11110 San Fernando, Cádiz, Espanha; E-mail: jgarate@roa.es
A cartografia geomorfológica de pormenor das formas e depósitos é uma das técnicas mais utilizadas em estudos de geomorfologia do Quaternário. Permite registar com precisão em mapas de grande escala (geralmente 1: 5.000 a 1: 25.000), a informação de natureza geomorfológica (por ex: topografia, hidrologia, geologia, morfometria, morfografia, morfogénese, morfocronologia e morfodinâmica - cf. Peña Monné, 1997) recolhida de modo sistemático, quer através da observação de fotografia aérea, quer através de levantamentos detalhados de campo. Os mapas assim elaborados constituem portanto uma excelente ferramenta para os estudos do Quaternário, pois neles se encontra descrita exaustivamente a geomorfologia de uma determinada área. A sua utilização em conjunto com informação de natureza sedimentológica, proporciona uma abordagem integrada fundamental para as reconstituições paleogeográficas (ver por exemplo Ferreira et al., 1999).
Em áreas sem informação topográfica de base, ou onde a sua escala impossibilita a localização precisa dos fenómenos a cartografar, a elaboração de um mapa geomorfológico de pormenor rigoroso torna-se muito dificil, senão mesmo impossível. Mas mesmo em áreas com boas bases topográficas, a cartografia de formas e depósitos de pequena dimensão ou de contornos irregulares pode ser pouco rigorosa. O aparecimento recente de GPS (Global Positioning Systems) de grande precisão veio contribuir para que a cartografia geomorfológica possa ser efectuada com uma precisão até aqui só conseguida através das técnicas da geodésicas tradicionais, mas com muito maior rapidez. Este aspecto torna-se especialmente significativo, se se utilizar um GPS cinemático, que permite cartografar de forma contínua pontos, linhas ou áreas no terreno, com erros de alguns milímetros.
A instalação de um GPS cinemático em fase experimental na Base Antárctica Espanhola (BAE) Juan Carlos I na Ilha Livingston (Shetland do Sul, Antárctida) durante a campanha de 1999-2000, permitiu que o tivessemos utilizado em alguns sectores da Península de Hurd, onde procediamos ao levantamento geomorfológico de pormenor à escala 1: 5.000. Os sectores cartografados com recurso ao GPS correspondem ao sector terminal do vale da BAE e ao vale localizado imediatamente a NW (que designamos por vale NW).
Ambos os vales contactam no seu sector terminal com o fiorde da Baía Sul, através de um sistema de praias levantadas holocénicas. Estas encontram-se muito bem conservadas no vale da BAE, onde se identificam 8 níveis escalonados, que cartografámos com o auxílio do GPS. Ambos os vales estão deglaciados recentemente, e por isso apresentam marcas muito frescas da dinâmica glaciária que os afectou. É um aspecto especialmente marcante no vale NW, onde se encontra um complexo sistema de moreias terminais e laterais, muito dificilmente cartografável pelos métodos tradicionais, e que também incluímos no nosso ensaio.
No campo, a utilização do GPS cinemático, faz-se através do transporte de uma pequena mochila com os instrumentos, que vai registando automaticamente em memória, as coordenadas e altitude do trajecto percorrido. Neste caso, optámos por proceder ao registo segundo intervalos de 1m. Um manómetro permite a leitura instantânea dos dados e a aferição do erro.
Os trajectos efectuados foram escolhidos de modo a permitir a correcta delimitação das formas em estudo, ou sejam, as cristas morénicas e as frentes de praia levantada. Naturalmente, a qualidade dos resultados obtidos, dependerá largamente da capacidade do investigador que usa o sistema, ou que coordena as observações, em identificar correctamente os elementos a cartografar. Os pontos obtidos no campo foram posteriormente transferidos para um computador e introduzidos num Sistema de Informação Geográfica, que permitiu visualizar a informação num mapa de base. Este método, além de permitir a elaboração de mapas muito rigorosos, possibilita o armazenamento dos pontos numa base de dados georeferenciada, que pode ser posteriormente utilizada para a construção de novos mapas da área de estudo.
Apesar do preço elevado de um sistema como o que utilizámos, pensamos que uma utilização frequente pode justificar a sua aquisição, pois a rapidez do levantamento e o rigor dos resultados obtidos são aspectos muito significativos a considerar.
Agradecimentos
A participação de Gonçalo Teles Vieira na campanha na Antárctida foi financiada pela Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação para a Ciência e a Tecnologia e pelo projecto Radiantar-2001 (PNIA - Programa Nacional de Investigación Antártica). O autor agradece ainda à Teracom e Optivisão os apoios concedidos.
Bibliografia
Ferreira, A. B.; Vidal Romani, J. R.; Zêzere, J. L.; Rodrigues, M. L. (1999) - A glaciação Plistocénica da Serra do Gerês. Vestígios geomorfológicos e sedimentológicos, C.E.G., A.G.F.A., Rel. nº 37, Lisboa, 150 p.
Peña Monné, J. L. (1997) - Los mapas geomorfológicos: características y tipos, in J. L. Peña Monné (ed.), Cartografia geomorfologica. Basica y aplicada, Geoforma ediciones, Logroño, p.13-24.