II Jornadas do Quaternário da APEQ; Porto, FLUP, 12-13 Outubro de 2000
 
 

PRIMITIVE WOODLAND TYPES IN THE NORTH OF CONTINENTAL PORTUGAL

Carlos Aguiar1

João José Honrado2

Rubim Almeida da Silva2

1 Escola Superior Agrária, Instituto Politécnico de Bragança (Portugal).

2 Department of Botany — Faculty of Science & UGEV-ICETA, University of Porto (Portugal).
 

Key-words: Northern Portugal, Palaeoclimates, Phytosociology, Primitive woodland types.

Pleistocene macroclimatic oscillations produced dramatic changes in the flora and the vegetation of Western Iberian Peninsula. These events, modulated by the relative climatic uniformity of the Holocene period, produced the current distribution pattern of the main types of potential vegetation in Continental Portugal, the basis of a recently published biogeographic proposal (COSTA et al., Quercetea 0, 1998).

In the absence of major antropic actions, vegetation (specially woody, non-hygrophilic, vegetation) mostly depends on climate conditions. The dramatic changes introduced by human activities on the vegetation cover, mostly since the Upper Neolithic period, as shown by palaeopalinological surveys in Northwest Iberia, have been particularly strong during the last 700 years, so that the characteristic woodland types are nowadays very hard to recognise. However, we propose here that, in the absence of antropic processes, primitive woodland types, as well as their distribution areas, would have been quite unchanged since the beginning of Lower Middle Age.

Due to the introduction of antropic changes on potential vegetation, woodlands have been replaced by subseral communities (mostly shrubby formations) which are quite faithful to biogeographic territories. The "vegetation series" concept, relating all plant communities occurring within an ecologically uniform area, allows us to infer potential distribution areas of woodland types from the distribution patterns of shrubby subseral formations.

Using this concept as our guiding principle, we propose here a preliminary map (scale 1 : 400 000) of primitive woodland vegetation in the North of Continental Portugal (the territory north of Douro River). This approach is, by definition, a vegetation series map for Northern Portugal.
 
 


VEGETAÇÃO FLORESTAL PRIMITIVA DO NORTE DE PORTUGAL CONTINENTAL

Palavras-chave: Fitossociologia, Norte de Portugal, Paleoclimas, Vegetação florestal primitiva.

As oscilações macroclimáticas pleistocénicas produziram alterações dramáticas na flora e na vegetação do ocidente da Península Ibérica. Essa macrodinâmica, modelada pela relativa homogeneidade climática do Holocénico, produziu a actual distribuição geográfica dos grandes tipos de vegetação potencial em Portugal Continental, base de uma tipologia biogeográfica recentemente proposta (COSTA et al., Quercetea 0, 1998).

Na ausência de perturbação antropogénica assinalável, a vegetação responde de forma mais ou menos directa às condicionantes do clima, sendo este fenómeno particularmente notório no caso da vegetação lenhosa não-higrófila. A profunda alteração do coberto vegetal introduzida pelas actividades humanas, sensível a partir do Neolítico Final nas sondagens paleopalinológicas efectuadas no Noroeste Peninsular, acentuou-se de forma dramática nos últimos 700 anos, de tal que modo essa vegetação florestal é, hoje em dia, penosamente reconhecível. No entanto, supõe-se que, na ausência da acção antrópica, os tipos e a distribuição espacial da vegetação florestal primitiva do Norte de Portugal Continental ter-se-iam mantido praticamente inalterados (i.e. com ajustamentos irrelevantes à escala de trabalho aqui adoptada) desde o ínício da Baixa Idade Média.

O conceito de vegetação potencial foi proposto por R. Tüxen, por forma a obviar as dificuldades resultantes do conceito de clímax, um dos mais polémicos e debatidos conceitos da Ciência da Vegetação. Desenvolvido por Clements, resultou, originalmente, da hipótese de uma convergência universal dos processos sucessionais em direcção a um único tipo regional imutável de vegetação, unicamente dependente do macroclima. A hipótese do monoclímax foi imediatamente criticada por autores contemporâneos de Clements, de entre os quais se evidenciou Tansley, ao defender a importância de factores como a litologia e a topografia na génese da vegetação climácica (hipótese do policlímax).

A fitossociologia sigmatista incorporou as objecções de Tansley e de outros autores ao paradigma clementsiano, ao distinguir "clímax" de "comunidade permanente" (ou "clímax estacional"). Ambos os conceitos englobam as comunidades de maior complexidade estrutural que culminam os processos sucessionais progressivos e que se encontram num equilíbrio meta-estável com o macroclima e com os fenómenos de pedogénese e morfogénese.

Assim, distinguem-se em fitossociologia dois tipos fundamentais de vegetação climácica com papel relevante na construção da paisagem: a climatófila e a edafófila. A vegetação climácica climatófila desenvolve-se em biótopos cuja humidade edáfica depende exclusivamente do regime pluvial do território, encontrando-se, por isso, na estreita dependência do macroclima. A vegetação climácica edafófila (comunidades permanentes ou clímaces estacionais) está presente nos locais onde se concentra a água das chuvas por escorrimento superficial ou subterrâneo (e.g. fundos de vales) (clímax edafo-higrófilo) ou, pelo contrário, em solos mais secos do que os solos que sustentam a vegetação climácica por causa da exposição ao sol ou porque o declive promove a sua exportação para fora do sistema solo-planta (clímax edafoxerófilo).

A introdução antropogénica de perturbações severas sobre a vegetação potencial, quase invariavelmente de índole florestal, conduziu à sua substituição por comunidades subseriais (principalmente arbustivas) relativamente fiéis a cada unidade biogeográfica. O conceito de "série de vegetação", que relaciona as comunidades que podem ocorrer num espaço ecologicamente homogéneo, permite inferir de forma bastante aproximada a distribuição potencial dos diferentes tipos de bosques a partir dos padrões geográficos das comunidades subseriais arbustivas.

Utilizando como princípio orientador o conceito de série de vegetação, é aqui proposta uma aproximação à cartografia (escala 1 : 400 000) da vegetação florestal primitiva do Norte de Portugal Continental (território delimitado a Sul pelo Rio Douro). Esta carta é, por definição, um mapa de séries de vegetação.
 


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